Eis-me acordado
Com o pouco que sobejou da juventude nas mãos
Estas fotografias onde cruzei os dias
Sem me deter
E por detrás de cada máscara desperta
A morte de quem partiu e se mantém vivo
A luz secou na orla desértica da cidade
Escrevo para sobreviver
Como quem necessita partilhar um segredo
Este corpo em que me escondi
Gastou-se
Quantas noites permanecerão intactas
No fundo do mar? O rosto ainda jovem
Foi tesouro de seivas que me entonteceu
Pelo corpo condeno-me à vida
De susto em susto à inutilidade da escrita
Mas eis-me acordado
Muito tempo depois de mim
Esperando por alguma fulguração do corpo
Esquecido
À porta do meu próprio inferno
Al Berto
In Medo
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