Wednesday 21 April 2010
21iv2010
Com receio da tua lâmina
Fria limpa implacável
Engulo
Escondo no estômago
As palavras indizíveis
Para que expludam somente dentro de mim
Aguardo a noite de digestão difícil
De ácidos corroendo-me o interior
Da revolta dos fluídos verdes
...
Queria vomitar
Vomitar-vos para cima toda a minha dor
Afogar-vos no meu tormento
Sentir pela manhã o alívio cansado
Sorrir ao reflexo da pele pontilhada de derrames sanguíneos dos músculos esforçados
E sentir-me vazia de mim
Apanho do chão a lâmina suja e sou livre...
Fria limpa implacável
Engulo
Escondo no estômago
As palavras indizíveis
Para que expludam somente dentro de mim
Aguardo a noite de digestão difícil
De ácidos corroendo-me o interior
Da revolta dos fluídos verdes
...
Queria vomitar
Vomitar-vos para cima toda a minha dor
Afogar-vos no meu tormento
Sentir pela manhã o alívio cansado
Sorrir ao reflexo da pele pontilhada de derrames sanguíneos dos músculos esforçados
E sentir-me vazia de mim
Apanho do chão a lâmina suja e sou livre...
38.
Invejo a todas as pessoas o não serem eu. Como de todos os impossíveis, esse sempre me pareceu o maior de todos, foi o que mais se constituiu na minha ânsia quotidiana, o meu desespero de todas as horas tristes.
Um rajada baça de sol turvo queimou nos meus olhos a sensação física de olhar. Um amarelo de calor estagnou no verde preto das árvores. O torpor.
Um rajada baça de sol turvo queimou nos meus olhos a sensação física de olhar. Um amarelo de calor estagnou no verde preto das árvores. O torpor.
Bernardo Soares
in Livro do Desassossego
Saturday 10 April 2010
Bemdito Sejas
Bemdito sejas,
Meu verdadeiro conforto
E meu verdadeiro amigo!
Quando a sombra, quando a noite
Dos altos céus vem descendo,
A minha dôr,
Estremecendo, acórda...
A minha dôr é um leão
Que lentamente mordendo
Me devora o coração.
Canto e chóro amargamente;
Mas a dôr, indiferente,
Continúa...
Então,
Febríl, quase louco,
Corro a ti, vinho louvado!
- E a minha dôr adormece,
E o leão é socegado.
Quanto mais bêbo mais dórme:
Vinho adorado,
O teu poder é enorme!
E eu vos digo, almas em chaga,
Ó almas tristes sangrando:
Andarei sempre
Em constante bebedeira!
Grande vida!
- Ter o vinho por amante
E a morte por companheira!
António Botto
in Canções
Meu verdadeiro conforto
E meu verdadeiro amigo!
Quando a sombra, quando a noite
Dos altos céus vem descendo,
A minha dôr,
Estremecendo, acórda...
A minha dôr é um leão
Que lentamente mordendo
Me devora o coração.
Canto e chóro amargamente;
Mas a dôr, indiferente,
Continúa...
Então,
Febríl, quase louco,
Corro a ti, vinho louvado!
- E a minha dôr adormece,
E o leão é socegado.
Quanto mais bêbo mais dórme:
Vinho adorado,
O teu poder é enorme!
E eu vos digo, almas em chaga,
Ó almas tristes sangrando:
Andarei sempre
Em constante bebedeira!
Grande vida!
- Ter o vinho por amante
E a morte por companheira!
António Botto
in Canções
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